Elias, O Destemido Profeta de Deus

Personagens da Bíblia (Parte I)

I - INTRODUÇÃO

No momento em que o reino de Israel do norte atravessou um dos seus piores períodos da história, Elias é chamado por Deus para exercer o ministério profético. Este período foi marcado por uma profunda crise moral, social e espiritual, notadamente pela corrupção, assassinatos, idolatria, fome e miséria. Mas, em meio a esta crise, Deus contou com a coragem e a determinação de Elias, para ser Seu porta-voz.

Este tema trará detalhes sobre a vida e a obra de um dos maiores personagens da história sagrada. Considerado como um dos mais destacados profetas de Israel, Elias é apresentado na Bíblia sem uma única palavra referente ao seu passado, nem sobre a identidade de seus pais e de sua parentela. Diz apenas que ele era tesbita (I Reis 17:1), por ter vindo de Tesbi, um povoado das montanhas de Gileade, uma região ao leste do Jordão à beira do grande deserto da Arábia. Esse lugar não aparece em outras passagens bíblicas, mas é citado somente no contexto da história do profeta Elias.

Conforme a Palavra de Deus, Elias exerceu sua carreira profética durante mais ou menos 32 anos. Iniciou por volta do ano de 875 aC,, durante o reinado de Acabe e continuou como profeta até quase o final do reinado de Jorão, em 843 aC, quando o seu nome é mencionado pela última vez, ao enviar uma carta ao rei, afirmando que Deus o vitimaria com uma grave doença e feriria o povo de Israel com um grande flagelo (II Crônicas 21:12-15). Esta carta do profeta Elias, segundo os registros bíblicos, foi enviada 10 anos depois de sua trasladação por meio de um redemoinho, sendo esta uma prova inconteste de que ele não subiu ao Céu e sim, que aquele redemoinho o levou para algum outro lugar sobre a face da Terra.

O nome do profeta Elias (no hebraico: Eliyahu) revela algo de sua identidade, pois significa: Jeová é o meu Deus. Sendo um profeta israelita, ele professava sua fé no Deus único e verdadeiro que através da história tem-Se revelado poderosamente ao Seu povo.

Nos lábios de Elias encontravam-se palavras de fé e poder. Toda a sua vida estava devotada à obra da reforma, cuja voz clamava no deserto para repreender o pecado e fazer refluir a maré do mal. O livro do Apocalipse dá ênfase aos seus feitos, enquadrando-o no rol das duas testemunhas, pois, como profetas, têm atormentado os habitantes da Terra:

“Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia (faz referência ao profeta ELIAS); e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem. (faz referência ao profeta MOISÉS) ...porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra.” Apocalipse 11:6 e 10.

Coube ao profeta Elias a missão de enaltecer a verdadeira adoração ao único Deus, Criador do Universo, bem como o de protagonizar os fatos mais impactantes na história dos profetas de Israel, ao denunciar os desmandos do governo dos seus dias e ao desafiar os falsos profetas que assolaram o antigo Israel. Coube ao profeta Moisés a missão de libertar o povo de Israel das mãos dos egípcios e receber as tábuas da eterna lei, escritas pelo dedo de Deus (Êxodo 31:18).

O profeta Elias tem sido um modelo de autenticidade e autoridade espiritual, um exemplo a ser imitado por todos os professos cristãos da atualidade.


II – CONTEXTO POLÍTICO E RELIGIOSO DO TEMPO DE ELIAS

A idolatria foi sempre combatida por Deus desde a saída dos filhos de Israel do cativeiro egípcio (Êxo, 20:3-5,23). Depois da aliança firmada no monte Sinai, Deus sempre advertiu seu povo de Lhe ser fiel, e de não seguir os deuses adorados pelos habitantes da terra em que haviam de entrar (Êxo. 34:10-17). Porém, durante a monarquia, Salomão trouxe este mal para dentro da nação santa e posteriormente, anos antes de o profeta Elias entrar em cena, uma sucessão de reis ímpios mergulhou Israel numa apostasia sem precedentes. O povo perdeu de vista seu dever de servir ao único Deus e como conseqüência, as condições espirituais e morais caíram a um nível alarmantemente baixo. Dentre esses monarcas infiéis destacamos os seguintes:

a) JEROBOÃO – Como rei apóstata, ele dividiu e enfraqueceu a nação israelita. Reinou 22 anos (I Reis 14:20). A respeito dele o Senhor Deus de Israel disse: “Mas tens praticado o mal, pior do que todos os que foram antes de ti, e foste, e fizeste para ti outros deuses e imagens de fundição, para provocar-Me à ira, e Me lançaste para trás das tuas costas; ...” I Reis 14:9.

b) NADABE – Ele foi filho de Jeroboão e reinou sobre Israel 2 anos (I Reis 15:25). Diz a Palavra de Deus que ele “fez o que era mau aos olhos do Senhor, andando nos caminhos de seu pai, e no seu pecado com que tinha feito Israel pecar.” I Reis 15:26. Ele e toda a família de Jeroboão foram assassinados por seu sucessor, Baasa (I Reis 15:28-30).

c) BAASA – Ele foi filho de Aias, da tribo de Issacar. Durante o seu governo, Israel foi marcado por derramamento de sangue, assassinatos, conspirações, maldades, intrigas, imoralidade, traição, engano, ódio e idolatria. Ele reinou 24 anos (I Reis 15:33) e “fez o que era mau aos olhos do Senhor, andando no caminho de Jeroboão e no seu pecado com que tinha feito Israel pecar.” I Reis 15:34).

d) ELÁ – Ele foi filho de Baasa, começou a reinar em Tirza sobre Israel e reinou 2 anos (I Reis 16:8) e enquanto estava bebendo e embriagando-se na casa de seu mordomo Arza, na região de Tirza, o rei Elá foi assassinado por Zinri, comandante de metade da força dos carros reais.

e) ZINRI – Nenhum rei de Israel governou por um período mais curto do que Zinri. O comandante de metade da força de carros da nação permaneceu apenas sete dias no poder. Depois de assassinar o rei Elá, Zinri mandou assassinar toda a casa de Baasa, cumprindo a profecia de Yahweh (I Reis 16:3), “sem lhe deixar um só varão, e matou também seus parentes e seus amigos.” I Reis 16:11. Nessa ocasião as tropas do exército de Israel estavam lutando contra os filisteus em Gibeton, uma cidade filistéia distante 65 km da fronteira de Tirza. Quando as tropas de Israel souberam das maldades cometidas por Zinri, nomearam às pressas Onri como rei e chefe do exército. Onri imediatamente marchou para Tirza. Diz a Palavra de Deus que “vendo Zinri que a cidade era tomada, entrou no castelo da casa do rei, e queimou-a sobre si e morreu, por causa dos pecados que cometera, fazendo o que era mau aos olhos do Senhor, andando no caminho de Jeroboão; e no pecado que este cometera, fazendo Israel pecar.” I Reis 16:18 e 19.

f) ONRI - Durante o seu reinado, Onri “...fez o que era mau aos olhos do Senhor Deus, e fez pior do que todos que o antecederam..” I Reis 16:25. Onri aparece na Bíblia como um monarca irremediavelmente marcado por ter seguido os caminhos de Jeroboão, um monarca apóstata que dividiu e enfraqueceu a nação israelita. De acordo com o relato bíblico, Onri fez “o que era mau aos olhos do Senhor, pior mesmo do que todos os que o antecederam. Pois ele andou em todos os caminhos de Jeroboão, filho de Nebate, como também nos seus pecados com que tinha feito pecar a Israel, irritando ao Senhor Deus de Israel com as suas vaidades.” I Reis 16:25 e 26. Durante o seu reinado, Israel teve paz e estabilidade política, como resultado de uma aliança feita com a Fenícia, selando-a com o casamento de seu filho Acabe e a princesa fenícia Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sidom (I Reis 16:31). Quando Onri faleceu, em seu lugar reinou seu filho Acabe (I Reis 16:28).

g) ACABE – Ele reinou 22 anos sobre Israel, em Samária. A respeito do rei Acabe a Bíblia diz que ele fez “o que era mau aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele.” I Reis 16:30. Acabe foi um rei idólatra, pois ele andou nos caminhos de Jeroboão (I Reis 16:31) e, por influência de sua esposa Jezabel, ele substituiu o culto ao único Deus verdadeiro pela adoração ao deus Baal (divindade cultuada pelos antigos povos cananeus), conduzindo toda a nação de Israel ao mais profundo paganismo.

Os relatos bíblicos indicam que, desde Jeroboão até o aparecimento do profeta Elias perante Acabe, uma escura sombra de apostasia e perversidade cobria a nação de Israel. O ódio de Jezabel causou perseguição e matança dos profetas de Deus, obrigando-os a ocultarem-se em cavernas, com a ajuda do mordomo Obadias (I Reis 18:4). Foi durante este período de trevas espirituais é que surgiu o profeta Elias, homem destemido e destinado a deter a rápida disseminação da apostasia em Israel.

III – AS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS PELO DESTEMIDO MENSAGEIRO DE DEUS

Ao profeta Elias foi confiada a missão de anunciar ao rei Acabe o castigo que estava prestes a cair sobre Israel como conseqüência da sua predominante apostasia. Elias era um profeta de Deus, que falava o que as pessoas precisavam ouvir e não o que elas desejavam ouvir. Elias apareceu repentinamente perante o rei e suas primeiras palavras registradas foram as seguintes:

“Vive o Senhor, Deus de Israel, em cuja presença estou, que nestes anos não haverá orvalho nem chuva, senão segundo a minha palavra.” I Reis 17:1.

Como a chuva é um dos principais elementos de sustentação da natureza, a falta dela provocou seca, fome e miséria. As Sagradas Escrituras têm relatado que por causa da severa estiagem, “...a fome era extrema em Samaria.” I Reis 18:2. O período de seca seria de três anos e seis meses: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, e orou com fervor para que não chovesse, e por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra.” Tiago 5:17.

Ao povo de Israel a promessa de abundância de chuva tinha sido dada sob condição de obediência. Antes de o povo de Israel possuir a terra prometida, Moisés transmitiu-lhe as seguintes palavras de exortação:

“Pois a terra na qual estais entrando para a possuirdes é terra de montes e de vales; da chuva do céu bebe as águas; terra de que o Senhor teu Deus toma cuidado; os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente, desde o princípio até o fim do ano. E há de ser que, se diligentemente obedeceres a meus mandamentos que eu hoje te ordeno, de amar ao Senhor teu Deus, e de O servir de todo o teu coração e de toda a tua alma, darei a chuva da tua terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhas o teu grão, o teu mosto e o teu azeite; e darei erva no teu campo para o teu gado, e comerás e fartar-te-ás. Guardai-vos para o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e os adoreis; e a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche ele o céu, e não caia chuva, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá.” Deuteronômio 11:10-17.

“Se, porém, não ouvires a voz do Senhor teu Deus, se não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que eu hoje te ordeno, virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão: ...O céu que está sobre a tua cabeça será de bronze, e a terra que está debaixo de ti será de ferro. O Senhor dará por chuva à tua terra pó; do céu descerá sobre ti a poeira, até que sejas destruído.” Deuteronômio 28:15, 23 e 24.

Israel estava atravessando um período de uma grave crise espiritual. Influenciado por sua esposa Jezabel, o rei Acabe substituiu o culto ao Deus de Israel, pela adoração a Baal (I Reis 16:31-33). A rainha Jezabel foi educada no culto fenício do deus Baal e da deusa Aserá ou Astarote. Sob a sua influência, multiplicaram-se os sacerdotes e os profetas que serviam a esses deuses em todo o reino de Israel. De acordo com o relato bíblico, 450 profetas de Baal e 400 profetas de Aserá, comiam à mesa de Jezabel. Em outras palavras, esses falsos profetas eram sustentados pela casa do rei (I Reis 18:19). Eles falavam ao povo o que o rei e sua consorte queriam ouvir. Esses profetas faziam parte de um sistema estatal do governo. Nos dias atuais esses falsos líderes religiosos atuam de uma forma semelhante e eles são identificados como “teólogos a serviço do Estado” e eles falam o que o povo gosta de ouvir.

Os fenícios, também chamados de cananeus, enfatizavam a crença de que o seu deus Baal era o senhor e proprietário da terra e do povo, provendo chuva que tornava a terra fértil. E, quanto à deusa Aserá ou Astarote, esta era a mais importante deusa dos fenícios. A deusa Aserá era conhecida como deusa mãe ou rainha dos céus pelas mulheres de Judá, no tempo do profeta Jeremias (Jeremias 7:18 e 44:17-19). Diante desta situação era necessário que o decreto da parte do Deus de Israel fosse pronunciado com urgência, pois a questão envolvida era: ADORAÇÃO.

Depois de apresentar ao rei Acabe a mensagem que anunciava o eminente juízo sobre a nação de Israel, o profeta Elias desapareceu tão repentinamente como havia chegado. Veio a ele a palavra de Deus, dizendo:

“Vai-te daqui, e vira-te para o oriente, e esconde-te junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão. E há de ser que beberás do ribeiro; e Eu tenho ordenado aos corvos que ali te sustentem.” I Reis 17:3-4.

A trajetória de Elias nos ensina que ele confiou em Deus e aprendeu a depender nEle. Ao contrário do que muitos imaginam, depender de Deus não é uma tarefa muito fácil, pois em certo momento Elias bebeu água de um ribeiro e se alimentou de pão e carne trazidos pelos corvos (I Reis 17:4-6), e em outro momento ele foi alimentado de pão e água trazidos por um anjo (I Reis 19:5-7).

Como profeta, ele aprendeu a ter intimidade com Deus. O ministério de Elias não foi marcado apenas por profecias, mas por meio dele Deus pôde operar muitas maravilhas, tais como: fechar o céu para que não chovesse (I Reis 17:1); multiplicar o azeite e farinha (I Reis 17:16); ressuscitar o filho da viúva de Serepta (I Reis 17:22); o fogo no altar, ao desafiar os profetas de Baal (I Reis 18:30-39); fazer com que a chuva interrompesse a seca, em resposta à oração (I Reis 18:41-45); a morte dos soldados do rei Acazias (II Reis 1:9-14); dividir o rio Jordão (II Reis 2:8). Todos estes milagres têm demonstrado claramente que o profeta Elias era um homem que vivia em íntima comunhão com Deus.

IV – CONFRONTANDO OS FALSOS PROFETAS

Por intimação do rei Acabe, o profeta Elias tem sido procurado em toda a parte, em cidade após cidade e nação após nação. Muitos reis tinham que fazer juramento de honra de que o profeta Elias não se encontrava em seus domínios (I Reis 18:10). Nesse ínterim, Deus mandou Elias apresentar-se ao rei Acabe:

“Depois de muitos dias veio a Elias a palavra do Senhor, no terceiro ano, dizendo: Vai, apresenta-te a Acabe; e Eu mandarei chuva sobre a terra.” I Reis 18:1.

O rei e o profeta encontraram-se face a face. Movido pelo ódio, o rei Acabe acusa o profeta Elias de ser o perturbador de Israel (I Reis 18:17). Elias respondeu dizendo: “Não sou eu que tenho perturbado a Israel, mas és tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos de Deus, e por teres tu seguido os baalins.” I Reis 18:18. A resposta do profeta ressalta um fato importante. Aqueles que pregam a verdade e corrigem o erro não são subversores da sociedade. A fonte dos problemas sociais é o pecado, e aqueles que continuam no pecado contribuem para o sofrimento.

Numa impressionante demonstração de coragem e fé, Elias lançou um desafio, convocando todo o povo de Israel, bem como os 450 profetas de Baal e os 400 profetas de Aserá a encontrá-lo no monte Carmelo (I Reis 18:19). O objetivo do profeta Elias era mostrar-lhes a grande diferença entre o único Deus verdadeiro e os falsos deuses que o rei deles adorava. No dia designado, o povo de Israel aglomerou-se junto ao monte Carmelo. Então Elias se chegou a todo o povo e disse: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; mas se Baal, segui-o.” I Reis 18:21. Os israelitas, tão acostumados a seguir cegamente seus chefes religiosos, não responderam. Seus sentimentos estavam tão embotados por gerações de tradições pecaminosas que eram praticamente incapazes de distinguir o certo do errado. As gerações modernas também não conseguem discernir o falso do verdadeiro quando o assunto envolve ADORAÇÃO.

Elias, então, diante do povo, propõe um teste para provar quem é o verdadeiro Deus a ser seguido e adorado. Ele propôs que ambos os lados preparassem um novilho para sacrifício, mas não acendessem o fogo, pois “o deus que responder enviando fogo para acender a lenha é o verdadeiro Deus.” I Reis 18:24. De um lado estavam os 850 profetas cananeus com o rei e um imponente altar de Baal e do outro lado um profeta de Deus sozinho e um altar em ruínas.

Durante toda a manhã os profetas de Baal e Aserá tentaram resposta de seus deuses para o sacrifício, mas “não houve voz; ninguém respondeu, nem atendeu.” I Reis 18:29.

Quando se aproximou a hora do sacrifício vespertino, o povo voltou-se daquele aglomerado de profetas fracassados de Baal para Elias, o qual começou calmamente a consertar o altar de Deus que estava em total ruína. O profeta Elias usou doze pedras para simbolizar as doze tribos de Israel. Além de ter o cuidado de colocar a lenha e o novilho sacrificial da maneira correta, Elias cavou uma vala funda em volta do altar. Depois mandou trazer quatro talhas cheias de água, mas, em vez de usá-las para ritos de purificação, mandou que derramassem a água sobre o sacrifício e a lenha. Mais duas vezes ele mandou encher as jarras e esvaziá-las, até que a vala ficou cheia e o altar, encharcado.

No momento oportuno Elias aproximou-se sozinho diante do altar e dirigiu-se a Deus com as seguintes palavras: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, seja manifestado hoje que tu és Deus em Israel, ... responde-me para que este povo reconheça que és tu Senhor, o Deus, e que convertes o coração deles.” I Reis 18:36-37. Em seguida as chamas consumiram tudo: sacrifício, lenha, pedras e até a água. Diante desta poderosa manifestação divina, Elias pôde demonstrar a impotência dos falsos deuses e provou que somente o único Deus era o verdadeiro provedor da chuva e da fertilidade. Houve grande reconversão a Deus, e “quando o povo viu isto, prostraram-se todos com o rosto em terra e disseram: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” I Reis 18:39. Imediatamente Elias mandou o povo agarrar todos os falsos profetas, condenando-os à morte, em cumprimento a uma antiga lei israelita contra a apostasia, que se encontra registrada em Êxodo 22:20 – “Quem sacrificar a qualquer deus, a não ser tão somente ao Senhor, será morto.”

Respondendo à oração de Elias, Deus interrompe a seca enviando um aguaceiro (I Reis 18:41-45). Quando a rainha Jezabel foi informada da morte dos seus profetas, jurou que mandaria executar o profeta Elias imediatamente. Um medo repentino se apossou de Elias. Ele se levantou, e, para escapar com vida, foi para Berseba, percorrendo mais de trezentos quilômetros para fugir daquela mulher irada. Sentindo-se completamente esgotado e desalentado, ele orou desejando a morte: “Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.” I Reis 19:4.

Parecia o fim da jornada daquele destemido profeta. No entanto, Deus envia um anjo para lhe dar pão e água (I Reis 19:5-7). Assim Elias foi provido por Deus pela segunda vez com alimento naquele deserto. Com a força daquela comida, Elias caminhou quarenta dias e quarenta noites até chegar à Horebe (I Reis 19:8). Ao chegar em Horebe, ele se escondeu em uma caverna, onde teve um encontro com Deus, que lhe falou numa voz mansa e delicada (I Reis 19:12). Suas forças, então, são renovadas, fazendo com que ele saísse daquela caverna e executasse os propósitos divinos (I Reis 19:15-21). O Todo Poderoso mostrou a Elias que ele tinha ainda um grande trabalho a fazer como profeta. Deus ordenou que ele fosse para Damasco, ungir a Hazael como rei da Síria, Jeú como rei de Israel e Eliseu como seu substituto.

Antes de transferir o manto do seu cargo profético para Eliseu, Elias encontrou-se mais uma vez com o rei Acabe. Este rei ganancioso, adorador de Baal, com ajuda de Jezabel, confiscou a propriedade de um vizinho chamado Nabote, após ele ter sido executado devido a acusações falsas de blasfêmia e traição (I Reis 21:13). Elias foi ao encontro de Acabe e predisse a morte dele e a morte vergonhosa de Jezabel. Uma profecia cumprida ao pé da letra (ver I Reis 22:29-40 e II Reis 9:30-37).

V – ELIAS NÃO SUBIU AO CÉU

Muitos sinceros cristãos acreditam que Elias foi levado para o Céu. Este ensinamento, no entanto, não tem base bíblica. Segundo as Escrituras Sagradas, todos os homens devem morrer:

“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo,...” Hebreus 9:27.

Assim, o profeta Elias não poderia ser uma exceção à regra. Precisa-se entender exatamente o que aconteceu quando houve a separação entre Elias e Eliseu:

“E, indo eles caminhando e conversando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho.” II Reis 2:11.

Atenção para os seguintes detalhes:

a) Elias não subiu num carro de fogo. O objetivo do carro de fogo foi apenas para separar Elias de Eliseu. Elias foi transportado para o céu num redemoinho.

b) O redemoinho é formado por deslocamento de ar. É lógico, portanto, que Elias não saiu da atmosfera terrestre, pois fora desta, não há redemoinho. Conclui-se que o profeta Elias simplesmente foi transportado pelo redemoinho do lugar onde se encontrava para um outro lugar no planeta Terra.

Depois que Elias foi arrebatado pelo redemoinho, os filhos dos profetas vieram a Eliseu e sugeriram fazer uma busca na região a fim de encontrá-lo. Uma iniciativa como esta revela que eles não acreditavam e nem ensinavam que poderia haver uma trasladação ao Céu, apesar de Eliseu ter visto Elias sendo transportado por um redemoinho. Para uma análise cuidadosa, transcrevemos o texto bíblico deste episódio:

“Vendo-o, pois os filhos dos profetas que estavam defronte dele em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre Eliseu. E vindo ao seu encontro, inclinaram-se em terra diante dele. E disseram-lhe: Eis que entre os teus servos há cinqüenta homens valentes. Deixa-os ir, pedimos-te, em busca do teu senhor; pode ser que o Espírito do Senhor o tenha arrebatado e lançado nalgum monte, ou nalgum vale. Ele, porém disse: não os envieis. Mas insistiram com ele, até que se envergonhou; e disse-lhes: Enviai. E enviaram cinqüenta homens, que o buscaram três dias, porém não o acharam.” II Reis 2:15-17.

A Bíblia confirma que Elias não subiu ao Céu. Cerca de 10 anos depois de seu arrebatamento, ele enviou uma carta a Jeorão, rei de Judá (o estudo “NINGUÉM SUBIU AO CÉU”, postado neste site, apresenta maiores detalhes sobre o envio desta carta). Isto prova que ele estava vivo no planeta Terra e estava acompanhando o desenrolar dos fatos:

“Então lhe veio uma carta da parte de Elias, o profeta, que dizia: Assim diz o Senhor, Deus de Davi, teu pai: Porquanto não andaste nos caminhos de Jeosafá, teu pai, e nos caminhos de Asa, rei de Judá; ...” II Crônicas 21:12.

Quando Elias foi trasladado, Jeosafá era rei de Judá. Quando Elias escreveu a carta, o rei de Judá era Jeorão, filho de Jeosafá.

Elias com certeza não estava no Céu quando enviou aquela carta. Ele estava em algum lugar aqui na Terra, sendo protegido por Deus. Está claro, portanto, que o tempo de seu ministério havia findado, razão porque Deus passou o trabalho dele para Eliseu. Elias simplesmente saiu de cena por meio deste traslado.

VI – ELIAS E MOISÉS FORAM VISTOS COM JESUS

Falando sobre a Sua segunda vinda e com relação ao Seu futuro Reino, o Senhor Jesus fez uma promessa para alguns de Seus discípulos:

“ Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras. Em verdade vos digo que alguns há dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam o Filho do homem no Seu Reino.” Mateus 16:27 e 28.

Jesus disse que alguns dos que estavam com Ele não passariam pela morte até que vissem o Filho do homem em Seu futuro Reino. Seis dias depois, levou consigo os discípulos Pedro, Tiago e João a um alto monte, para cumprir a Sua promessa:

“Seis dias depois, tomou Jesus a Pedro e aos irmãos Tiago e João e os levou, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; o Seu rosto resplandecia como o sol, e as Suas vestes tornaram-se brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com Ele.” Mateus 17:1-3.

Esta cena foi simplesmente uma VISÃO do futuro Reino de Cristo, de acordo com as palavras de Jesus:

“E, descendo eles do monte, ordenou-lhes Jesus: A ninguém conteis A VISÃO, até que o Filho do homem ressuscite dentre os mortos.” Mateus 17:9.

Neste texto, como em Apocalipse, há relatos de muitas visões, mas seus personagens são futuros. Exemplo: Apocalipse 21:2. Deus mostrou ao profeta João, em visão, a Nova Jerusalém que descia do Céu. Não era algo que estava acontecendo naquele momento. Mas era uma visão de um evento futuro. A descida da Nova Jerusalém dar-se-á após o milênio, quando o planeta Terra estará todo restaurado e livre do pecado.

Neste caso específico, Elias e Moisés aparecem na visão como participantes do futuro Reino de Cristo, embora ainda não tivessem sido ressuscitados.

Em Mateus 16:27 diz que quando Jesus vier na Sua glória, então retribuirá a cada um segundo as suas obras.

Quando Jesus disse que alguns não provariam a morte até que enxergassem o Filho do homem vindo na glória, explica a razão de terem diante deles uma visão, relatada no capítulo seguinte de Mateus. A promessa de Jesus foi cumprida no capítulo 17 de Mateus, prefigurando aí uma situação no futuro Reino. Assim, Elias e Moisés ressuscitarão com todos os demais salvos na ocasião da segunda vinda de Cristo e estarão com Ele em Seu futuro Reino.

VII – CONCLUSÃO

O profeta Elias foi chamado para mostrar quem é o verdadeiro Deus de Israel. Ele era um homem semelhante a nós, no entanto, ele foi um verdadeiro homem de Deus. A respeito dele escreveu o discípulo Tiago em sua epístola: “...A oração fervorosa de um homem justo tem grande poder e resultados maravilhosos. Elias era tão inteiramente humano quanto nós, e entretanto, quando orou fervorosamente que não caísse chuva, não caiu nada durante os três anos e meio seguintes. Depois ele orou de novo, desta vez para que chovesse, e a chuva desceu e o pasto ficou verde e as hortas começaram a crescer novamente.” Tiago 5:16-18. A sua inabalável fé em Deus, fez dele um exemplo de lealdade e destemor, ante a intensa oposição e perseguição por parte das falsas religiões e dos falsos profetas.

O registro da atividade da vida de Elias tem levado inspiração e coragem a todos aqueles que têm sido chamados a permanecer pelo direito, mesmo em meio à idolatria. A fim de preparar um povo para o primeiro advento de Cristo, um homem foi enviado da parte de Deus para andar “no espírito e virtude de Elias” (Lucas 1:16 e 17), cujo nome era João Batista. E neste sentido, e neste só, ele foi o Elias, conforme profetizado pelo profeta Malaquias: “Eis que Eu vos envio o profeta Elias, antes que venha o dia grande e terrível do Senhor.” Malaquias 4:5. O mestre Jesus havia dito que João Batista cumpriu esta profecia (ver Mateus 11:14 e 17:10-13). A mensagem de João Batista foi clara, precisa e ela resultou em genuína operação de arrependimento e reforma nos corações daqueles que por ele foram batizados (Mateus 3:1-8).

Ressalta-se, todavia, que a profecia de Malaquias 4:5 tem uma dupla aplicação. Esse grande e terrível dia, conforme está descrito na mesma profecia, cumprir-se-á em toda a sua plenitude no futuro, pois esse dia “vem ardendo como forno; todos os soberbos e todos os que cometem impiedade serão como palha, e o dia que está para vir os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que lhes não deixará nem raiz nem ramo.” Malaquias 4:1.

Os que proclamam o abandono do culto falso e idólatra são o Elias para este tempo. Multidões, nos dias atuais, têm uma errônea concepção do verdadeiro Deus e de Seus atributos, e estão servindo a um falso deus tão verdadeiramente como o estavam os adoradores de Baal no tempo do profeta Elias. (ver estudo sobre a “ORIGEM E SIGNIFICADO DA DOUTRINA DA TRINDADE” postado neste site).

O apelo que o profeta Elias fez ao povo de Israel ecoa até os nossos dias: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; e se Baal, segui-o.” I Reis 18:21.