Predestinação e Livre Arbítrio

Questões Bíblicas – Perguntas e Respostas (PARTE XXI)

PERGUNTA: O que diz a Palavra de Deus sobre esse assunto? Será que o entendimento difundido por algumas correntes teológicas protestantes, principalmente por aquelas que defendem a interpretação de João Calvino, está de acordo com os ensinos das Escrituras Sagradas?



I – INTRODUÇÃO

O objetivo desse tema é tecer informações importantes baseados em textos extraídos das Escrituras Sagradas e como esses textos foram interpretados pelos profetas, pelo próprio Messias e pelos apóstolos.

Em primeiro lugar precisa-se entender o significado de cada uma dessas palavras (Predestinação e Livre Arbítrio) no sentido bíblico:

- Predestinação: É o decreto de Deus que possibilita a salvação a todos os que O buscam e O amam, fazendo a Sua vontade.

- Livre Arbítrio: É a faculdade que o homem tem de dizer não a Deus.

A doutrina da predestinação cunhada por João Calvino e seus seguidores na época da reforma protestante, gerou uma série de dificuldades com relação ao assunto da salvação. Calvino, ampliando ideias já antes defendidas por Aurélius Agustinus, conhecido como “Santo Agostinho”, afirmou que desde a antiguidade Deus estabeleceu dois decretos: Um selecionando um grupo para salvação ou vida eterna, e um outro decreto selecionando aqueles que serão destruídos. O próprio Calvino qualificou o segundo decreto como “o terrível decreto de Deus”.

Essa corrente doutrinária conflita com os princípios apresentados nas Escrituras Sagradas. Tais ensinos têm ofuscado a importância da obediência nos meios cristãos, uma vez que, segundo essa interpretação, a fidelidade ao Eterno não tem influência sobre a justificação do indivíduo, ou seja, a obediência ao nosso Criador não influenciará para sua salvação.

Em outras palavras esses falsos conceitos atestam que um grupo de indivíduos está predestinado para salvação, mesmo que ele viva uma vida contrária à vontade de Deus. O termo muito utilizado é: “Uma vez salvo, sempre salvo”. Por outro lado, essa equivocada doutrina apregoa que os que foram predestinados para condenação não têm o que fazer. Segundo essa interpretação, essas pessoas jamais serão alcançadas pela graça de Deus.

Para muitos teólogos o tema é complexo, pois não conseguem conciliar a misericórdia com a justiça divina. Não conseguem entender que Deus é justo ao condenar aqueles que não almejam a salvação e misericordioso para com os que buscam a salvação.

O grande problema é a forma de interpretar os textos bíblicos. Três importantes princípios exegéticos e hermenêuticos serão úteis para compreensão do tema da predestinação e o livre arbítrio:

1. A análise de um texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras, e nunca através de passagens isoladas;

2. Para se compreender bem uma passagem é preciso consultar as passagens paralelas, aquelas que tratam do mesmo assunto;

3. Observar bem o contexto, ou seja, o que vem antes e depois, para se saber do que o autor está tratando.

Os falsos dogmas introduzidos pelo cristianismo depois de Cristo precisam ser questionados à luz da Palavra de Deus. É certo que nenhuma tradição de homens deve estar acima das Escrituras.


II – TEXTOS BÍBLICOS PARA ELUCIDAR O ASSUNTO

Todo indivíduo tem o direito de escolher o caminho que deseja seguir. Caim teve sua oportunidade:

“Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? E por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? E se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” Gênesis 4:6 e 7.

O Deus Criador tem um propósito geral para o universo e para cada pessoa, mas Ele não força a vontade de ninguém, tanto no que diz respeito aos interesses eternos como aos interesses temporais.

Dois caminhos Deus põe diante do ser humano:

“Vede que hoje Eu ponho diante de vós a bênção e a maldição: A benção, se obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, que Eu hoje vos ordeno; porém a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, mas vos desviardes do caminho que Eu hoje vos ordeno, para seguirdes outros deuses que nunca conhecestes.” Deuteronômio 11:26-28.

O texto a seguir constitui cabal demonstração de que é a atitude e a vontade da pessoa que influem grandemente em seu bem-estar futuro, tanto nas questões materiais como espirituais:

“Desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo iniquidade, morrerá por causa dela; na iniquidade que cometeu morrerá. Mas, convertendo-se o perverso da perversidade que cometeu, e praticando o que é reto e justo, conservará ele a sua alma em vida.” Ezequiel 18:26 e 27.

A tendência para o mal surgiu a partir do momento quando Adão e Eva comeram do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Antes a tendência era apenas para o bem. (ver Gênesis 3:5).

O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Porém, é propósito de Deus que todos cheguem ao conhecimento da verdade e tenham uma vida feliz, “não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.” II Pedro 3:9 última parte. Precisa-se enfatizar, no entanto, que cada divíduo tem escolhas a fazer:

“Portanto tu, filho do homem, dize aos filhos do teu povo: A justiça do justo não o livrará no dia da sua transgressão; e, quanto à impiedade do ímpio, por ela não cairá ele no dia em que se converter da sua impiedade; nem o justo pela justiça poderá viver no dia em que pecar. Quando Eu disser ao justo que certamente viverá, e ele, confiando na sua justiça, praticar iniquidade, nenhuma das suas obras de justiça será lembrada; mas na sua iniquidade, que praticou, nessa morrerá. Demais, quando Eu também disser ao ímpio: Certamente morrerás; se ele se converter do seu pecado, e praticar a retidão e a justiça, se esse ímpio restituir o penhor, devolver o que ele tinha furtado, e andar nos estatutos da vida, não praticando a iniquidade, certamente viverá, não morrerá. Nenhum de todos os seus pecados que cometeu será lembrado contra ele; praticou a retidão e a justiça, certamente viverá. ...Quando o justo se apartar da sua justiça, praticando a iniquidade, morrerá nela; e quando o ímpio se converter da sua impiedade, e praticar a retidão e a justiça, por essas viverá.” Ezequiel 33:12-19.

O apóstolo Paulo escreveu:

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade.” Efésios 1:3-5.

O livre arbítrio exercido pelo ser humano é como um jogo de cartas. Ele joga as cartas como bem entender. Deus não vai interferir no seu jogo. Deus apenas dá a ele as cartas. Deus conhece todas as possibilidades do jogo, no entanto, quem escolhe fazer o jogo é o ser humano.

Após o ser humano ser alcançado pela graça e justificado pelo Eterno, ele deve perseverar no caminho certo. Neste aspecto a lei de Deus tem por intuito preservá-lo no caminho da retidão. Deduz-se, pois, que a lei não salva ninguém. Porém, ninguém ama a Deus sendo um contumaz transgressor.

Tiago escreveu:

“Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem as obras é morta.” Tiago 2:24-26.

O Senhor Jesus esclareceu esse assunto:

“Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar bons frutos, Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” Mateus 7: 18-23.

O termo “iniquidade”, do grego: “anomia”, significa: aquele que tem desprezo pela lei. O apóstolo João escreve: “Todo aquele que vive habitualmente no pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei.” I João 3:4.

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor. Toda vara em mim que não dá fruto, Ele a corta; e toda vara que dá fruto, Ele a limpa, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós, como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas. Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” João 15:1-8.


III – CONCLUSÃO

A obediência é muito valorizada na fé bíblica. A vida eterna é o resultado do caminhar de todo aquele que ama a Deus. Para chegar à linha de chegada depende do esforço de cada um: “Ao que vencer…” Apocalipse 2:7; 2:11; 2:17; 2:26; 3:5; 3:12; 3:21.

Não é Deus quem tira a pessoa do caminho certo. Essa é uma decisão pessoal de cada indivíduo.

Deus é justo para com os que estão conectados com Ele. Como também Ele é justo para com as pessoas, as quais mesmo tendo praticado o pecado, se levantam e se arrependem.

A grande cidade de Nínive é um bom exemplo. O profeta Jonas foi enviado por Deus para clamar contra ela, porque a sua maldade era grande. Deus tinha planos de destruí-la. Porém, ela não foi destruída porque o povo e seus líderes se arrependeram e deixaram de lado seus maus caminhos.

Diante de tudo o que se tem apresentado, é possível alterar os juízos de Deus, mediante uma conversão pessoal:

“E se Meu povo, que se chama pelo Meu nome, se humilhar e orar, e buscar a Minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então Eu ouvirei do Céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” II Crônicas 7:14.

É desejo de Deus conceder a todo ser humano a salvação. No entanto, cada pessoa deverá fazer a sua escolha: Dizer sim a esse amável convite ou dizer não a Deus.