Divergências Encontradas No Evangelho De Mateus

Questões Bíblicas – Perguntas e Respostas (Parte XIX)

PERGUNTA: Afirma-se que toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus, que compreende tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento. Os defensores desta ideia tomam como base II Timóteo 3:16 e 17. Seria correta esta interpretação?


I – INTRODUÇÃO

Primeiramente precisa-se estabelecer algumas considerações sobre a problemática teológica do conceito de inspiração. Poderiam textos inspirados estar em contradição com outros textos igualmente considerados inspirados? Ao se perceber isso, uma análise mais profunda deve ser realizada com intuito de descobrir o que é falso e o que é verdadeiro.

Quando Yeshua orientou seus seguidores que deveriam examinar as Escrituras (ver João 5:39), ele estava se referindo à quais Escrituras? Ele próprio respondeu:

“Depois lhes disse: São estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na LEI DE MOISÉS (Torá), NOS PROFETAS E NOS SALMOS.” Lucas 24:44.

É bastante esclarecedor o relato do evangelista Lucas a respeito de Yeshua para com as Escrituras Sagradas, ao ele escrever o seguinte:

“E, começando por MOISÉS (Torá) E POR TODOS OS PROFETAS, explicou-lhes o que dele se achava em TODAS AS ESCRITURAS.” Lucas 24:27.

O atual sistema religioso, denominado de “cristianismo”, afirma que Yeshua fez referência tanto ao Antigo Testamento quanto ao Novo Testamento. Seria isto verdade? Como poderia ser verdade se o Novo Testamento nem tinha sido escrito ainda?

Quando Yeshua foi tentado pelo Diabo, Ele usou textos bíblicos do Antigo Testamento para se defender (ver Mateus 4:1-11 e Lucas 4:1-13). Os textos utilizados foram: Deut. 8:3; Deut. 10:20; Deut. 6:16. Todos esses textos fazem parte da Torá, ou seja, dos escritos de Moisés.

Yeshua, o verdadeiro Messias, foi um cumpridor da lei (Torá) e dos ensinamentos dos profetas:

“Não penseis que vim destruir a LEI (Torá) ou os PROFETAS, não vim destruir, mas cumprir.” Mateus 5:17.

Assim, a fé do verdadeiro povo de Deus deve-se fundamentar única e exclusivamente nas Escrituras Sagradas, ou seja, na lei e nos ensinamentos dos profetas, conforme exemplo deixado por Yeshua, o Messias.

Os fatos narrados no Novo Testamento, com exceção do livro do Apocalipse, merecem um cuidado especial, pois muitos dos seus escritos estão em total contradição com os ensinamentos dos profetas, indicando claramente que os mesmos não são confiáveis.

Como exemplo pode-se apresentar o evangelho de Mateus, que, além de divergir com os outros escritos, cita muitos textos do Antigo Testamento os quais não têm relação alguma com o verdadeiro Messias, descendente biológico do grande rei Davi.


II – TEXTOS DE MATEUS COMPARADOS COM AS ESCRITURAS

1. NASCIMENTO VIRGINAL? - MATEUS 1:23 / ISAÍAS 7:14

O que escreveu Mateus:
“Eis que a VIRGEM (do hebraico: BETHULAH) conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado Emanuel, que traduzido é: Deus conosco.” Mateus 1:23.

O texto de Mateus 1:23 não corresponde com o que está escrito em Isaías 7:14:

O que escreveu Isaías:
“Eis pois que o Eterno, Ele mesmo dará para vocês um sinal, eis que a MOÇA (do hebraico: ALMAH) grávida está concebendo um filho e chamará seu nome Emanuel (Deus conosco).” Isaías 7:14.

É importante esclarecer que o termo hebraico ALMAH, usado no texto escrito pelo profeta Isaías, tem o seguinte significado: moça; mulher jovem.

De acordo com o texto de Isaías 7:14 dá para perceber que o texto não fala de uma “VIRGEM” que conceberá, mas simplesmente que uma “MOÇA” grávida está concebendo um filho. O nome desse filho seria Emanuel (Deus está conosco). Esse nome não significava a encarnação de Deus em forma humana, mas uma promessa de ajuda divina ao povo judeu.

O profeta Isaías apresenta um contexto histórico diferente, sem nenhuma conotação messiânica. Neste capítulo, Isaías profetiza contra dois reinos específicos (Israel e Síria) que ameaçavam Judá. A profecia era de que a jovem daria à luz a uma criança e lhe poriam o nome de Emanuel e que quando essa criança soubesse distinguir entre o bem e o mal, Judá não mais seria ameaçada por esses dois reinos.

Vale lembrar que Yeshua não recebeu o nome “Emanuel” (Deus está conosco), mas sim, foi lhe dado o nome de Yeshua (ver Mateus 1:25), que significa (Deus é salvação).

Nitidamente o texto do profeta Isaías ou foi intencionalmente mal interpretado pelo evangelista Mateus, ou houve deturpação do mesmo, para dar a conotação que esta criança seria um semideus.

Pergunta-se: Onde se encaixa Yeshua nesta profecia?


2. A FUGA PARA O EGITO - MATEUS 2:13-15 / OSÉIAS 11:1

O que escreveu Mateus:
“E, havendo eles se retirado, eis que um anjo do Senhor apareceu a José em sonho, dizendo: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito, e ali fica até que eu te fale; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. Levantou-se, pois, tomou de noite o menino e sua mãe, e partiu para o Egito, e lá ficou até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Do Egito chamei o Meu filho.” Mateus 2:13-15.

O que escreveu Oséias:
“Quando Israel era menino, Eu o amei, do Egito chamei o Meu filho.” Oséias 11:1.

Ao comparar os dois textos, constata-se um sério problema. O profeta Oséias escreveu que quem foi chamado a sair do Egito foi o povo de Israel, cuja história foi narrada no livro de Êxodo e não o Messias. E nem poderia ser, pois dando continuidade à leitura, lê-se no verso 2 o seguinte:

“Quanto mais Eu o chamava, tanto mais se afastavam de Mim; sacrificavam aos baalins, e queimavam incenso às imagens esculpidas.” Oséias 11:2.

Como encaixar Yeshua neste relato? Será que Yeshua sacrificou a ídolos? É tudo muito estranho. Estranha na realidade foi a ordem do anjo dizendo que deveriam levar Yeshua para o Egito. Esta ordem é muito estranha, porque no passado havia uma ordem de Deus para que ninguém do povo de Judá voltasse para o Egito:

“...Nunca mais voltareis por este caminho.” Deuteronômio 17:16

“Nesse caso ouvi a palavra do Senhor, ó resto de Judá. Assim diz o Senhor dos exércitos, Deus de Israel: Se vós de todo vos propagardes a entrar no Egito, e entrardes para lá peregrinar, então a espada que vós temeis vos alcançará ali na terra do Egito, e a fome que vós receais vos seguirá de perto mesmo no Egito, e ali morrereis. Assim sucederá a todos os homens que se propuserem a entrar no Egito, a fim de lá peregrinarem: morrerão à espada, de fome, e de peste; e deles não haverá quem reste ou escape do mal que Eu trarei sobre eles. Pois assim diz o Senhor dos exércitos, Deus de Israel: Como se derramou a Minha ira e a Minha indignação sobre os habitantes de Jerusalém, assim se derramará a Minha indignação sobre vós, quando entrardes no Egito. Sereis um espetáculo de execração e de espanto, e de maldição, e de opróbrio; e não vereis mais este lugar. Falou o Senhor acerca de vós, ó resto de Judá. Não entreis no Egito. Tende por certo que hoje vos tenho avisado.” Jeremias 42:15-19.

Será que esta narrativa de Mateus teve a inspiração de Deus?


3. O CHORO DE RAQUEL - MATEUS 2:16-18 / JEREMIAS 31:15

O que escreveu Mateus:
“Então Herodes, vendo que fora iludido pelos magos, irou-se grandemente e mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo que havia em Belém, e em todos os seus arredores, segundo o tempo que com precisão inquirira dos magos. Cumpriu-se então o que fora dito pelo profeta Jeremias: ‘Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação e grande pranto; Raquel chorando os seus filhos, e não querendo ser consolada, porque eles já não existem.’” Mateus 2:16-18.

O que escreveu Jeremias:
“Assim diz o Senhor: Ouviu-se um clamor em Ramá, lamentação e choro amargo; Raquel chora a seus filhos, e não se deixa consolar a respeito deles, porque já não existem.” Jeremias 31:15

A profecia do profeta Jeremias se referia ao cativeiro babilônico que os judeus foram submetidos, pois como Raquel foi enterrada em Belém, no caminho à Israel (ver Gênesis 35:19; 48:7) e os judeus terem sido levados cativos, Raquel iria chorar por eles.

O contexto desta profecia não se aplica à morte dos meninos de Belém. Esta profecia indica que Deus disse a Raquel que não chorasse, porque o seu trabalho seria recompensado e seus filhos voltarão da terra do inimigo. A promessa era de que eles voltarão para os seus termos, isto é, voltarão à sua condição anterior. Se eles voltarão à condição anterior é porque eles voltariam do cativeiro babilônico. Isto foi profetizado (ver Jeremias 29:10).


4. O NAZARENO - Mateus 2:23

O que escreveu Mateus 2:23?
“E foi habitar numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado nazareno. Mateus 2:23.

Nenhum profeta disse exatamente estas palavras. Além disso, os termos “Nazaré” e Nazareno” não se encontram explicitamente em nenhum livro do Antigo Testamento.


III – TEXTOS DO EVANGELHO DE MATEUS EM CONTRADIÇÃO COM OUTROS TEXTOS DO NOVO TESTAMENTO

1. O pedido de Jairo com relação à sua filha.

MATEUS 9:18 / LUCAS 8:41 e 42

Texto escrito por Mateus:
“Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e prostrou-se diante dele, dizendo: Minha filha ACABA DE FALECER; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá.” Mateus 9:18.

Texto escrito por Lucas:
“E eis que veio um homem chamado Jairo, que era chefe da sinagoga; e prostrando-se aos pés de Yeshua, rogava-lhe que fosse à sua casa, porque tinha uma filha única de cerca de doze anos, que ESTAVA À MORTE. …” Lucas 8:41 e 42.


2. Quantos cegos Yeshua curou ao sair de Jericó?

MATEUS 20:29-30 / MARCOS 10:46-47

Texto escrito por Mateus:
“Saindo eles de Jericó, seguiu-o uma grande multidão; e eis que DOIS CEGOS, sentados junto do caminho, ouvindo que Yeshua passava, clamaram, dizendo: Senhor, filho de Davi, tem compaixão de nós.” Mateus 20:29-30

Texto escrito por Marcos:
“Depois chegaram à Jericó. E, ao sair ele de Jericó com seus discípulos e uma grande multidão, estava sentado junto do caminho UM MENDIGO CEGO, Bartimeu, filho de Timeu. Este, quando ouviu que era Yeshua, o nazareno, começou a clamar, dizendo: Yeshua, Filho de Davi, tem compaixão de mim.” Marcos 10:46-47.


3. O texto de Mateus cita que Zacarias era filho de Baraquias, que seria aquele que foi morto por apedrejamento no átrio da casa do Senhor. No entanto, isto não é verdadeiro. O texto de II Crônicas relata que esse Zacarias foi filho do sacerdote Jeoiada.

MATEUS 23:35 / II CRÔNICAS 24:20-21

Texto escrito por Mateus:
“Para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, FILHO DE BARAQUIAS, que matastes entre o santuário e o altar.” Mateus 23:35.

Texto de II Crônicas:
“E o Espírito de Deus apoderou-se de Zacarias, FILHO DO SACERDOTE JEOIADA, o qual se pôs em pé acima do povo, e lhes disse: Assim diz Deus: Por que transgredis os mandamentos do Senhor, de modo que não possais prosperar? Porquanto abandonastes o Senhor, também Ele vos abandonou. Mas conspiraram contra ele e, por ordem do rei, o apedrejaram no átrio da casa do Senhor.” II Crônicas 24:20-21.


4. Quem fez o pedido para que os irmãos Tiago e João se assentassem um a direita e outro a esquerda de Yeshua em seu reino? Mateus escreveu que foi a mãe deles e Marcos garante que foram os dois discípulos que fizeram pessoalmente esse pedido a Yeshua.

MATEUS 20:20-21 / MARCOS 10:35-37

Texto escrito por Mateus:
“Aproximou-se dele, então A MÃE DOS FILHOS DE ZEBEDEU, com seus filhos, ajoelhando-se e fazendo-lhe um pedido. Perguntou-lhe Yeshua: Que queres? Ela lhe respondeu: Concede que estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino.” Mateus 20:20-21.

Texto escrito por Marcos:
“Nisso aproximaram-se dele TIAGO E JOÃO, FILHOS DE ZEBEDEU, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos faças o que te pedirmos. Ele, pois lhes perguntou: Que quereis que eu vos faça? Responderam-lhe: Concede-nos que na tua glória nos sentemos, um à tua direita e outro à tua esquerda.” Marcos 10:35-37.



IV – CONCLUSÃO

As evidências estão aí para serem analisadas. Prova-se, pois, que o Novo Testamento, com exceção do livro do Apocalipse, não foi inspirado por Deus. Além das questões apresentadas, há inúmeras outras a serem esclarecidas. A verdade precisa ser resgatada e amplamente divulgada. Há uma decisão importante a ser tomada: seguir as pisadas do Messias Judaico ou seguir um falso Messias criado pelo “cristianismo”, considerado por esse sistema como um semideus, uma cópia de ideias oriundas dos mitos pagãos.